8.13.2006

Universo


No Público de hoje:


O Universo pode ser maior e mais antigo do que se julgava, de acordo com medições independentes da constante de Hubble feitas por duas equipas de astrónomos. Em ambos os casos, as equipas conceberam e puseram em prática novos métodos para determinar distâncias intergalácticas, mais precisos e simples que os tradicionais.
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Comparando a luminosidade real com a luminosidade medida na Terra, os astrónomos conseguiram determinar a distância destas estrelas à Terra - a maior distância alguma vez medida directamente, e próxima do limite máximo permitido pelos mais potentes telescópios. Para sua surpresa, o valor que obtiveram - 3,14 milhões de anos-luz - é 15 por cento superior ao que se esperava.
Os métodos tradicionais de medição de distâncias galácticas baseiam-se em determinações progressivas: começa-se por medir a distância de objectos próximos da Terra, e de seguida a distância destes a objectos não tão próximos e assim sucessivamente. Trata-se de um processo complexo, ao qual está associado um grande erro experimental. A principal motivação desta equipa era desenvolver um método directo de determinação destas distâncias, e conseguiram-no. Mas o seu trabalho acabou por ter outras consequências.
Segundo a Lei de Hubble, a razão entre a velocidade com que objectos como as galáxias mais distantes se afastam da Terra e a sua distância ao nosso planeta é dada por uma constante (de Hubble). Esta velocidade pode ser determinada comparando os espectros da radiação emitida e absorvida pelos objectos, e utilizando o efeito Doppler. Este processo não foi posto em causa pelo trabalho da equipa de Bonanos, pelo que dele resulta um novo valor para a constante de Hubble, 15 por cento mais baixo do que era estimado anteriormente.
A constante de Hubble é utilizada para a determinação dos limites espaço-temporais do Universo (o tamanho e a sua idade desde o Big Bang), conhecida a sua taxa de expansão. Resulta assim que o Universo é 15 por cento maior, e 15 por cento mais velho (15,8 milhares de milhões de anos de idade) do que o que se julgava.
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No entanto, segundo os próprios autores, o resultado não pode ser ainda considerado definitivo, uma vez que resulta de apenas uma única medição da distância.
De facto, este valor não é confirmado pelos resultados recentes de um outro grupo de astrónomos ligados à agência espacial norte-americana (NASA) e das universidades de Chicago, do Alabama e da Califórnia.
Este grupo utilizou o chamado efeito Sunyaev-Zeldovich: os fotões da radiação cósmica de fundo interagem com electrões no gás quente que atravessa os grupos de galáxias, adquirindo energia e distorcendo o sinal da radiação cósmica de fundo na direcção das galáxias. A intensidade desta distorção depende da densidade e da temperatura dos electrões e do tamanho do grupo de galáxias. Utilizando radiotelescópios para medir a distorção na radiação cósmica de fundo e dados do telescópio espacial de raios X Chandra para medir as propriedades dos electrões, pode determinar-se o tamanho do conjunto de galáxias.
Conhecendo estas dimensões e analisando as imagens do grupo de galáxias nos telescópios, é fácil determinar a sua distância. Conhecendo-se anteriormente as velocidades das mesmas, pode calcular-se a constante de Hubble.
Através deste método o grupo, liderado por Massimiliano Bonamente, analisou 38 grupos de galáxias, cujas distâncias à Terra variavam entre 1,4 e 9,3 milhares de milhões de anos-luz. Os resultados confirmam os valores anteriormente aceites e apontam para uma idade do Universo entre 12 e 14 milhares de milhões de anos.
Os trabalhos de ambos os grupos foram aceites para publicação na revista Astrophysical Journal e parecem sugerir que algo de interessante se passa com a constante de Hubble. Mais medições se seguirão a estas e confirmarão, ou não, o resultado nos próximos anos.

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