Milhares de romeiros voltaram ontem a subir cerca de 20 quilómetros na serra do Caramulo para assistir à reconstituição do "milagre da Urgueira" cumprindo uma tradição secular por altura dos festejos de Nossa Senhora da Guia que a Associação Etnográfica Os Serranos retomou em 1996 após um longo interregno.
O momento que conflui todos os olhares sucede quando um homem entra no forno de pão comunitário, aquecido por lenha a arder durante três dias até atingir os 300 graus, de onde retira uma broa de 70 quilos e a exibe, incólume, ao povo por quem será distribuída.
Submetido a obras de restauro executadas pela Câmara aguedense nos últimos meses com a ajuda de velhos mestres pedreiros, o forno legado à população da aldeia da Urgeira no final do século XIX com dinheiro doado pela promessa a Nossa Senhora da Guia de uma família que se salvara de um naufrágio ao emigrar para o Brasil, foi salvo da ruína que ameaçava a própria tradição.
Reza a lenda, num acto espontâneo e temerário, numa vez um homem entrou no forno, onde ardia lenha há vários dias, apenas com um casaco e de tamancos calçados, para depositar uma broa de milho e saiu vivo causando grande estupefacção entre os locais que passaram a crer ter sido um milagre.
Manuel Farias, presidente de Os Serranos, é quem faz de "milagreiro" no terceiro domingo de Agosto desde que a associação resolveu reavivar a tradição que o passar do tempo ameaçava condenar à memória dos mais velhos da aldeia da Urgueira, hoje habitada apenas por uma dúzia de pessoas,
O "milagreiro" da Urgueira não dispensa o casacão grosso de borel que tanto aquece no frio gélido da serra como protege no quente, um barrete apertado às orelhas e um cravo na boca. A encenação com a entrada real no forno dura, ainda assim, apenas nos escassos segundos que é necessário para retirar o pão. Os nacos da broa repartidos pelos presentes são tidos como especiais porque, garante o povo, aguentam muito tempo sem criar bolor.
Este é um exemplo engraçado dos problemas ligados à eficiência energética, nomeadamente a condutividade térmica dos materiais, que os divide em bons e maus condutores de calor. Analisando o texto que descreve os passos seguidos durante o cumprir da tradição verificamos que a pessoa que entra no forno veste um grosso casacão de borel, que no Inverno protege as pessoas das baixas temperaturas, pois este material que é um mau condutor, permite uma pequena taxa de transmissão de calor da pessoa para o meio ambiente.
A energia transferida por condução por unidade de tempo é directamente proporcional à diferença de temperaturas entre os corpos e inversamente proporcional à espessura do material. A constante de proporcionalidade é a condutividade térmica do material. Daí usarmos no Inverno casacos grossos, sermos aconselhados a utilizar vidros duplos nas nossas casas para diminuir a factura energética.
No Inverno quem se encontra a uma temperatura elevada é o nosso corpo e nesta situação é o meio ambiente que se encontra a uma temperatura elevada (300ºC). Mas o grosso casacão irá na mesma impedir que exista um grande fluxo de energia para o corpo da pessoa que entra no forno por condução, pois o material é um mau condutor. Bem como o barrete e os tamancos. O cravo certamente que serve para impedir a pessoa de respirar, porque à temperatura do forno respirar iria certamente causar graves lesões nas vias respiratórias.
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